Não é sempre que eu ando de ônibus ou metrô, e por isso eu não sei me locomover lá muito bem pela cidade me utilizando de tais métodos.
Porra, Luiza, você anda de ônibus ou metrô uma vez a cada 28.500 anos e é mais perdida do que cego em tiroteio! Vai eufemizar as coisas assim na China [eufemismo para não falar "casa do caralho" ou "puta que o pariu"]!
[Nossa, como minha consciência é boca-suja!] Enfim. Mas eis que hoje eu fui visitar minha ortodontista porque ela queria ver se o meu aparelho móvel estava bem (notem a inutilidade disso), então após a escola peguei um ônibus que nem lembro qual era junto com minhas amiguinhas queridas. Desci na estação Vila Madalena e catei o metrô. A viagem transcorreu perfeitamente bem, sem solavancos ou siricoticos. Aí eu fiquei lendo a Caras na sala de espera durante um bom tempo até que minha dentista finalmente resolveu me atender, olhou o aparelho, olhou a minha boca, apertou um pouco o aparelho, colocou de volta e disse que estava tudo bem e que era pra eu voltar lá daqui a dois meses. Hm. Ir até lá para ouvir isso... mas tudo bem.
Catei então o metrô de volta e, assim que desci na estação Vila Madalena, lembrei que tinha dito para a Nara que ia à casa dela (que é lá perto) e pediria para meu pai me buscar lá. Só que eram cinco e meia e meu pai só ia passar lá pelas sete, então eu achei que era tempo demais para ficar por lá e resolvi que ia de táxi. Fui andando em direção ao ponto, mas dei uma parada numa banca de jornal e vi a
Scientific American deste mês que possui uma reportagem sobre o "mistério desfeito dos raros neutrinos do Sol". Ahhh, meus amigos. I wanted that magazine
badly [existem certas coisas que têm muito mais ênfase em inglês]. Então catei a minha preciosa notinha de 10 dinheiros e recebi meu ínfimo troco, o necessário para pegar um ônibus e comprar um pão francês. O pão não me interessava, mas o ônibus sim.
Depois de perguntar para umas doze pessoas qual ônibus eu devia pegar, um cara me informou que era o Mercado de Pirituba. Então lá fui eu pro ponto esperar o dito cujo, com um olho na reportagem dos neutrinos e outro na rua.
Nisso um molequinho de uns seis anos começa a espernear para uma mulher que não parecia ser parente dele, mas estava tomando conta dele. Ele queria que a mulher comprasse um saquinho de pipoca pra ele, mas ela não tinha dinheiro. Tanto o moleque urrou que um outro cara que não tinha nada a ver com eles comprou pipoca pra ele. Depois, a mulher que estava com ele me perguntou qual era aquele ônibus que vinha vindo, e eu descobri que ela era analfabeta e sabia o nome do ônibus que devia pegar apesar de não conseguir ler o nome. E eu lendo a
Scientific American. Deu vontade de engolir a revista, ou tacar no meio da rua, jogar no chão e dançar o twist em cima, essas coisas. Mas passou rápido.
E a porcaria do Mercado de Pirituba não passava.
Nisso eu ouço uma mulher parar atrás de mim, pedir uma pipoca ao pipoqueiro e mandar o cão dela sentar. Eu a vi de relance, ela era alta, bem-arrumada e parecia ser decidida e, sei lá, forte. Ela me passou essa impressão. Depois de um tempo, eu fui olhar o cão dela e vi que ele tinha uma espécie de alça nas costas... depois eu me toquei de que era um cão guia e que a mulher era cega.
Enfim chegou o Mercado de Pirituba e eu subi no ônibus junto com mais um monte de gente, inclusive a mulher cega e um cara que usava uma camiseta com uma partitura estampada. Só que havia um probleminha: o ônibus estava COMPLETAMENTE lotado. Tipo um Rock in Rio sobre rodas. Então eu me esgueirei em meio à turba ignara que ocupava o veículo e consegui me posicionar mais ou menos perto da porta de saída (leia-se "no meio do ônibus"). E o cara da camiseta de partitura, que por sinal desceu no mesmo ponto que eu, também conseguiu se esgueirar. Então eu percebi que ele tinha um livro Pocket na mão, e era nada mais, nada menos do que Otelo, do Shakespeare. Assaz pitoresco.
Bom, mas eis que a mulher cega ficou lá na parte da frente do ônibus, mesmo porque seria impossível ela atravessar aquela multidão até a porta de saída. Nisso, uma mulher que estava ao meu lado comenta com a outra:
"Essa garota é cega e foi minha aluna... ela fez faculdade de direito e conseguiu uma licença para entrar com o cão dela no ônibus." Assaz pitoresco.
O ônibus, então, parou no ponto em que a mulher cega iria descer - um ponto antes do meu. E ficamos lá parados por BASTANTE tempo, até a mulher conseguir dar o comando correto para o cão levantar e sair do ônibus. Assaz pitoresco.
E aí no outro ponto eu desci, e era o ponto certo, a uma quadra e meia da minha casa. ASSAZ PITORESCO.
Bom, estas foram apenas algumas das coisas pitorescas que aconteceram hoje, mas este post já está comprido demais então eu vou parar por aqui.
Anônimo -
22:04