OK, vou falar da guerra. Preparem-se, porque isto será BEM LONGO.
Primeiramente, vamos falar um pouco sobre a criação do FMI (Fundo Monetário Internacional). Muita gente sabe qual é o papel dele hoje em dia na economia mundial, mas nem todo mundo sabe como ele surgiu. Ele apareceu depois da Segunda Guerra com o objetivo de emprestar dinheiro aos países pobres CAPITALISTAS para que eles pudessem manter a balança comercial favorável. Seu surgimento era, portanto, uma medida político-ideológica para conter o avanço do socialismo.
O que aconteceu foi que, na década de 80, houve a crise do petróleo que fez com que os EUA tivessem um baita dum prejuízo, já que a economia deles era (e ainda é) movida a petróleo. O que houve, na época, foi que os países produtores de petróleo produziram pouco e, portanto, o preço do barril subiu muito. Então, os EUA repassaram o prejuízo que tiveram com a crise do petróleo para os países pobres capitalistas na forma de altos juros para o pagamento da dívida externa, uma vez que os EUA mandam no FMI e não são bobos nem nada, não é mesmo?
Portanto, a dívida externa que pagamos até hoje e que não temos a mínima esperança de quitar é, em grande parte, prejuízo dos EUA que foi repassado. E esse é só um dos absurdos que os EUA vêm fazendo ao longo do último século (ou mais!) e que culminaram nos ataques terroristas do 11 de setembro de 2001, uma vez que costuma-se receber um revide quando se maltrata alguém por um longo período.
Agora, é mais do que óbvio que a guerra do Iraque não pretende libertar o povo iraquiano das garras do temível, terrível e maléfico Saddam. E também não é só pelo petróleo. É também pelo petróleo e em grande parte por ele, não nego. Mas na minha humilde opinião, os EUA têm de neutralizar todo aquele que esteja minimamente contra o grande império americano e que tenha recursos para, por assim dizer, dar um pouco de trabalho para Tio Sam e companhia. O Iraque não só faz parte do clube dos países assumidamente anti-americanos como também têm potencial bélico para fazer algum estrago nos EUA. Não o suficiente para vencê-los numa guerra, todos sabemos - mas se a guerra não estivesse acontecendo, mais dia menos dia poderia haver outros atentados terroristas nos EUA que, mais do que matar americanos, fazem com que o mundo veja que os EUA não são assim tão indestrutíveis e invioláveis e que há muita gente que tem consciência das atrocidades que eles vêm cometendo contra o resto do mundo. Assim sendo, é de grandíssimo interesse para os EUA impossibilitar novos ataques terroristas para que eles possam manter a imagem do mocinho invencível. É de se esperar que a guerra do Iraque se espalhe para todos os outros países assumidamente anti-americanos (a grande maioria deles, islâmicos), e também é de se esperar que, assim como a ONU, sejamos todos impotentes diante disso.
O que pouco se discute hoje em dia é que os EUA, embora estejam, sim, interessados no petróleo do Oriente Médio, estão também MUITO interessados em espalhar o seu modo de vida e suas idéias pelo resto do mundo, mesmo que seja através da imposição. Só o fato de dizerem que esta guerra é uma guerra "pela libertação do povo iraquiano" já denota essa intenção, uma vez que isso demonstra que os EUA consideram que a sua noção de liberdade é a noção universal e absoluta de liberdade. Quanto mais as idéias e conceitos "americanizados" (ou, pode-se dizer, "ocidentalizados", uma vez que grande parte do mundo ocidental já vive sob as regras silenciosas do império americano) se espalhem pelo resto do mundo, mais fácil é para os EUA continuar a expandir o seu poder por sobre o globo.
E esta não é a visão de uma esquerdista com mania de conspiração, não. Eu, na verdade, acho que boicotar produtos americanos e participar de manifestações contra a guerra, dentre outras coisas, são atos bem imbecis. Boicotar produtos americanos fode primeiro com a economia do nosso país, que por sinal é bem mais frágil do que a dos EUA, para depois - quem sabe? - repercutir lá em cima. Parar de comer no Mc Donald's, por exemplo, trará danos bem maiores para o brasileiro que passa o dia fazendo batata frita do que para a economia dos EUA. E, se a ONU não conseguiu impedir a guerra, passeatas e faixas e cartazes e bandeiras queimadas também não conseguirão. As manifestações, pelo menos, ao contrário dos boicotes, servem mais para conscientizar do que para alienar (boicote é alienação, sim, senhor!), e talvez por isso sejam mais válidas. Mas esta que vos fala não deposita esperanças nesse tipo de coisa. Neste sentido, sou uma grande pessimista e acho que será muito, mas MUITO difícil conter o avanço do império americano, porque isso só aconteceria caso todos - inclusive o povo americano - tivéssemos consciência daquilo que ocorre, e conscientizar o mundo é uma tarefa hercúlea. De qualquer maneira, admiro aqueles que têm esperança de que as manifestações possam mudar algo e força de vontade e paciência para pintar faixas e cartazes e acordar às oito da manhã num sábado para participar de uma passeata. Eu não faço parte desse povo, com licença.
Enfim, só sei que conversando sobre isso e outras coisas mais com a senhora minha mãe e o senhor meu pai (Rubão Gianesella - grande físico teórico do século XX), lembrei-me de um poema que escrevi alguns dias após os atentados em 2001. Em dias normais, eu não publicaria um poema meu no blog. Mas estou meio fora do ar hoje, então tó:
Mundo-Nação
Tudo explode.
Irmãos em chamas.
Irmãos-símbolo
Da causa da combustão.
Gente esnobe.
Por que me chamam
Para sua companhia?
Não apóio a grande nação.
Não vês, ó grande nação,
Que a terça-feira sombria
Foi fruto da tua ostentação,
De teu sistema, o da relação fria?
Não vês, presidente primata,
Que - de revide em revide -
O ódio sempre mata
Gente que nem mesmo vive?
Pois! Nada está certo.
Aquilo em que tanto acreditas
É apenas a norma padrão.
Cuidado com o momento perto,
Ou serás, tu, o terrorista
De nosso injusto mundo-nação.
Hoje, quando eu leio esse poema, vejo que o Sr. Bush já é o terrorista do nosso mundo-nação há um bom tempo. Eu também vejo que, por mais que não seja uma obra prima, eu gosto bastante desse poema e lamento profundamente o fato de que já faz mais de um ano que não escrevo um desses, por mais medíocre que seja.
Enfim, provavelmente tudo o que foi dito por mim aí em cima já foi dito em algum outro lugar; talvez de outra forma, talvez de uma forma melhor e mais clara (e mais curta, peloamordedeus!), mas de qualquer maneira eu gastei tempo demais escrevendo este
pequeno post para ignorá-lo completamente.
Meus profundos agradecimentos àqueles que tiveram paciência de ler este post até aqui. E uma pequena nota para o Flávio, o Sekkel e para qualquer outro pseudo-socialista "por princípio": seus comentários são completamente dispensáveis. Se quiserem gastar seu tempo comentando, podem fazê-lo - mas seus comentários serão, pelo menos por mim, sumariamente ignorados.
Anônimo -
16:44