Primeiro ator: "E logo o encontra
Desferindo nos gregos os seus golpes cansados;
A velha espada, já rebelde ao seu braço,
Cai onde entende, e onde cai demora,
Repugnando o comando. Combate desigual!
Pirro se arroja contra Príamo; cego de ódio, só atinge o vácuo;
Mas basta o sopro e o sibilar da espada em fúria
Pra derrubar o alquebrado rei. Como sentindo o golpe,
A Tróia inanimada precipita nas rochas os seus tetos em chama,
E, com um estrondo horrendo, pertifica os ouvidos de Pirro.
E vejam então; o ferro que se abatia sobre a cabeça láctea do venerado Príamo:
Está cravado no ar, e Pirro não faz nada,
Imobilizado entre seu objetivo e sua intenção,
Igual a um tirano eternizado em vitral.
Como vemos, às vezes, antes de um temporal,
Há silêncio nos céus, as nuvens ficam imóveis,
Ventos selvagens passam mudos,
E a terra gira como morta, antes que súbito,
Brutal, um trovão gigantesco rasgue o espaço.
Assim, depois da pausa, a vingança sanguinária
Retoma a mão de Pirro.
Jamais os martelos dos Cíclopes malharam
A couraça de Marte, ao forjá-la pra eternidade,
Com menos remorso do que a espada ensangüentada de Pirro
Tomba agora sobre Príamo.
Fora, fora, fortuna traiçoeira! Ó deuses, vocês todos,
Reunidos em assembléia, arrebatem-lhe o poder
Quebrem pinos, e raios, e juntas de sua roda,
E façam a esfera rolar das escarpas do céu
Ao fundo dos demônios!"
Polônio: Isso é muito comprido.
Hamlet, Ato II, Cena II
Anônimo -
21:08